Entrevista - Eudo Laranjeira
presidente da Fretonor
O modelo de licitação adotado em Natal atende as necessidades do sistema de transportes urbanos, na avaliação da federação?
Infelizmente, o modelo discutido e na Câmara e na Prefeitura restringiu-se ao tipo de veículo a ser utilizado e a uma outra questão pontual da operação. Começamos errado. Uma licitação de transporte precisa começar por um grande estudo de rede, ou seja, uma análise detalhada da distribuição das linhas para o melhor atendimento da população em seus deslocamentos, que contemplem todas as regiões e sirvam ao máximo de bairros da cidade. Os benefícios oferecidos por essa rede estruturada possui um custo que precisa ser discutido como será pago. Hoje, o que temos em Natal é um modelo totalmente custeado pelo passageiro que paga inteira ou subsidiado, no caso dos trens urbanos (CBTU) em que os usuários pagam apenas 10% do custo da operação/serviço. O modelo de remuneração é parte essencial em qualquer licitação e deve ficar claro para todos os envolvidos. Questões como a diferença entre o custo do serviço e o valor da tarifa a ser cobrada, que é definida politicamente pela prefeitura, deve ser respeitar o equilíbrio econômico financeiro do sistema.
Outros municípios potiguares, como Mossoró, Macaíba, vem organizando seus sistemas de transportes urbanos. E no setor de interurbanos, o que precisa ser feito pelo governo do Estado?
A Lei da Mobilidade já exige tal organização e, inclusive, que cada município tenha seu Plano Diretor de Transporte. O que precisa ser feito é basicamente se cumprir o que diz a Lei da Mobilidade e priorizar o coletivo em detrimento do transporte individual. O problema é que, ao longo de anos, o Governo do Estado deixou o setor de transporte em último plano, faltou uma política pública para esse segmento e a consequência disso foi o crescimento desenfreado do transporte clandestino, sem que houvesse qualquer controle ou ação inibitória por parte do Estado. Para se ter uma ideia desse dano, nos últimos 10 anos, mais de 80 linhas de transporte intermunicipal foram desativadas, mais de 200 ônibus deixaram de circular e mais de 800 empregos diretos, de carteira assinada, foram extintos. Com essa desconstrução, dezenas de municípios ficaram sem um serviço de transporte coletivo regular e isso é muito grave. Vale salientar aqui que, no Rio Grande do Norte, só as empresas de transporte regulares estão sob a égide da Lei, cumprem com a legislação de benefícios ao transporte e idosos e estudantes. O clandestino não respeita o direito de ninguém, mas nem por isso são punidos.
O setor de transporte vem sendo atingido - e qual a dimensão desse impacto - pela crise econômica?
O transporte é um setor intermediário entre a produção econômica e o consumo e não poderia estar imune à crise. Quando os setores produtivos demitem, o consumo cai e as pessoas não andam mais de ônibus para ir ao trabalho ou às compras. Somente nesses últimos dois meses, a demanda de passageiros caiu em aproximadamente 10% e, como o nosso setor é regulado pelo poder público, os serviços precisam ser prestados da mesma forma, independentemente da crise e da demanda de passageiros, o que torna os nossos custos ainda maiores se consideramos que nossa receita vem da quantidade de passageiros transportada.
Qual a avaliação que a federação faz da presença do Pro Transporte no RN?
É um bom projeto. Uma das poucas ações do Governo Federal destinadas ao transporte de passageiros. Aqui no estado os projetos são importantes e visam priorizar o transporte coletivo, mas a efetivação, o desenrolar das obras e os cronogramas estão bastante atrasados, comprometendo a melhoria da mobilidade urbana na cidade. Vale salientar que obras de grande porte são extremamente importantes, mas outras ações que visem priorizar o transporte coletivo devem ser implantadas e possuem baixo custo e imediata implantação, como as faixas exclusivas.
Tribuna do Norte
Nenhum comentário:
Postar um comentário