sábado, 19 de dezembro de 2015

Editorial: Ônibus novos representam avanços, mas escondem falhas do sistema

Foi com muita felicidade que os especialistas em transporte de Natal visualizaram imagens divulgadas, através da internet, de ônibus zero quilômetros adquiridos para o sistema de transporte de Natal por parte, inicialmente, de duas das empresas (Guanabara e Reunidas). A renovação faz parte de um acordo entre o Sindicato das Empresas de Transporte Público do Município de Natal (SETURN) e a Prefeitura do Natal (através da Secretaria de Mobilidade Urbana - STTU) para que o último aumento da tarifa pudesse entrar em vigor. No mês de junho de 2015, a tarifa aumentou de R$ 2,35 para R$ 2,65.

O acordo para o então aumento da tarifa no mês de junho previa ainda outras medidas, como o ajuste do itinerário da linha 48 (Santos Reis/Nova Descoberta), operado pela empresa Santa Maria; o aumento da frota do Circular do Campus da UFRN (linha 588), e a criação da linha 64A (que faria o trajeto Nova Natal/Petrópolis, via Ponte Newton Navarro). Até então, todas as medidas foram colocadas em prática por parte das empresas, porém nem uma dessas medidas trouxe avanços ao sistema de Natal.

  • A linha 48 (Santos Reis/Nova Descoberta), tinha seu itinerário via Campus desde a década de 90. No ano de 2012, a atual empresa operadora diminuiu o itinerário da linha, a retirando do Campus Universitário e prejudicando milhares de usuários que podiam contar com a linha e deslocar do Campus para os bairros do Alecrim e o Centro da Cidade. Na prática, é como se a empresa diminuísse o trajeto existente e só o retornasse se houvesse aumento da tarifa. O poder público nada fez para mudar a situação, e se mostrou refém das empresas operadoras: precisou autorizar o aumento da tarifa para que o itinerário voltasse a seu trajeto inicial. A situação chega a ser bizarra.
  • O aumento de um (01) veículo na linha 588 (Circular/Campus) não apresentou melhoras práticas na super lotação da linha (que até então contava com sete veículos). A super lotação atrelado ao péssimo planejamento de horários piora a vida de quem usa o Circular, linha que já tem histórico de dificuldades. O problema é bem maior que o demonstrado: nos últimos anos, as empresas retiraram suas linhas de dentro da Universidade para atender a demanda dos Shoppings da região. Para suprir a retirada de dezenas de veículos, foi criada a linha Circular. Obviamente, a demanda de dezenas de linhas não seria suportada por uma única linha que clama por aumento de frota semestralmente. Problema que acontece até hoje e tende a permanecer.
  • O trajeto Nova Natal/Ponte Newton Navarro/Centro traria grande comodidade aos usuários de ônibus do bairro Nova Natal e adjacências, e era esperado pela comunidade há anos. A criação da linha 64A, que faria esse trajeto, iria sanar esse problema. Na hora de colocar em prática a linha, houve uma união do novo trajeto à linha 43 (Candelária/Praia do Meio). Ou seja, na prática, a linha 43 foi estendida até o conjunto Nova Natal, e nem uma linha nova foi criada. É excelente que os usuários do conjunto Nova Natal possam se deslocar diretamente para o bairro Candelária numa linha direta, mas é lamentável haver a promessa da criação de uma linha firmado num acordo, e apenas uma "gambiarra" ser colocada em prática (no caso, a extensão da linha 43, que passou a fazer terminal no Nova Natal, e ganhou a ridícula nomenclatura de "64A43"). Além disso, ainda há os graves problemas de trânsito que a linha enfrenta diariamente, e a extensão da viagem.
Além disso, há diversas questões de mérito, que para serem discutidas, devem entrar em um novo editorial, mas que podem ser aqui mencionadas, tal qual: Um novo pedido por parte do SETURN para mais um aumento de tarifa em Natal (dos atuais R$ 2,65 para R$ 3,00), até então negado pela Prefeitura, devido o acordo do último aumento ainda não ter sido colocado em prática (faltava a chegada destes novos ônibus); a palavra da Prefeitura que após o penúltimo aumento de tarifa, só haveria nova majoração após a licitação - o que não aconteceu, já que o edital não foi publicado, e não há previsão de publicação; a falta de ação da prefeitura em priorizar o transporte coletivo, com ações desde a desoneração de impostos e/ou subsídios (apesar da crise econômica afeta não só o Brasil, mas diversos países, o transporte deve sim ser motivo de prioridade, visto a essencialidade para a sociedade e fatores relacionados); o grande número de denúncias que envolvem redução irregular da frota e restrição no sistema de integração via cartão eletrônico com os alternativos; a conivência e despreparo na inibição de centenas de ônibus usados presentes no sistema de transporte de Natal, etc.

Fatalmente, a Prefeitura é a grande culpada do caos do sistema de trânsito e transporte - com culpa ainda maior a atual gestão, a frente do órgão diretamente desde o ano de 2003 (excluindo o período entre os anos de 2009 a 2012, em que houve mudança na gestão de Natal), e demonstra claramente não ter qualquer interesse no real investimento do sistema de transporte. Os novos ônibus serão muito benvindos ao nosso sistema. Porém, trazem também o medo de mais um aumento de tarifa (como já pedido pelos empresários e negado pela Prefeitura, que alegava só faltar esta parte do acordo) e disfarçam as reais necessidade de uma grande reforma e prioridade ao sistema de transporte. Felizmente ou infelizmente, muitos têm ficado felizes com essa renovação por parte das empresas.

Na prática, esses novos ônibus vão melhorar o sistema de transporte?

Um comentário:

  1. eu concordo com suas colocações. Há um certo problema em relação ao consumidor, que como falado no encontro, está ficando mais escasso. Um ponto chave é que grande parte da população gosta de andar de onibus, é mais economico e alivia o transito evitando o estresse de dirigir e criar mais engarrafamentos. Porém, as condições as quais os transportes se encontram não ta dando espaço e os passageiros querem cada vez mais fugir dessa dependencia. Essas não se da somente pelo ano de fabricação dos veiculos, mas no seu estado de conservação e o conforto oferecido aos passageiros. É possivel ver que várias capitais do país, inclusive nossa vizinha, Fortaleza, que estão se adaptando a atender melhor os passageiros, com onibus maiores e configuração q permite esse conforto, como ar condicionado, suspensão a ar, cadeiras poltronadas. Nesses novos torinos, não foi visto nada disso, sendo eles com espaço interno um pouco menor que os torinos 2007 que já rodam na empresa. Visto a grande lotação da zona norte, que faz com que o povo ande 'emprensados' diariamente, esse era um ponto a ser resolvido. Por outro lado, a prefeitura é a principal culpada nisso, pois dentre vários fatores que não me cabe expor, permite que seja feito qualquer coisa sem a menor exigencia, como se a melhoria do transporte fosse algo ruim que não pode ser nem pensado ou planejado, além das linhas que não tem planejamento que atenda a população nem fiscalização para ver os pontos que precisam melhorar. Isso não é feito atualmente e nem está planejado fazer na licitação, que pela vontade do prefeito só será uma permissão para que o transporte continue como está e permanessa assim por muito mais tempo.

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